terça-feira, 30 de outubro de 2012

"O brasileiro não leva o design a sério" - Paolo Pininfarina

Saiu no site do Estado de São Paulo uma reportagem na sessão de Economia & Negócios com um título bem forte  'O brasileiro não leva o design a sério' (esse é o link pra reportagem)
Como sempre, qualquer coisa que aparece em uma rede social, tem uma repercussão meio grande, nesse caso pra pessoas da área.

Isso tem tudo a ver com o que eu tenho feito como projeto de conclusão de curso. Eu sei que dar a opinião sobre esse assunto é meio complicado, mas depois de tudo que eu estudei e o tanto que eu estressei, perdi noites de sono e  ganhei dores de estômago por causa do assunto, não consegui deixar de lado esse tema, e resolvi desabafar. Vou me repetir um pouco, mas eu adoro discutir sobre isso.


As coisas começaram com duas frases de uma grande amiga minha:

"Quem nunca teve problemas...eh só um site, eh só um desenho, faz um loguinho simples que já ta bão... "

respondi:
"nossa, eu escrevi isso agora pouco. vou compartilhar na minha time line XDDD
cara, a culpa é do designer. ele não se valoriza, ele não luta por um espaço, a história do design no brasil só mostra como o design aqui é atrasado, mas só a gente pode mudar essa realidade"

e então:
"mas babi, eu tb acho que é uma questão cultural..no Brasil eh lindo levar vantagem sobre as pessoas, e desvalorizar trabalho alheio. Acho que, como tudo no Brasil, a questão eh que a bosta ta tão grande que fica difícil culpar alguém"


Depois disso a conversa ficou um pouco mais séria. Expliquei meu ponto de vista e vou compartilhar ele com vocês.

Confirmei que existe sim um problema cultural no Brasil com relação ao papel do design. Mas o problema é mais feio e profundo do que só o jeitinho brasileiro que ela comentou. Acredito que o design no nosso país não é enxergado como algo que realmente importa para o produto final. Vivemos num Brasil onde todo o processo de produção é muito caro e o design tá lá no final do processo, utilizado na maioria das vezes se sobra capital pro investimento. Não se enxerga o design como algo que, além de agregar valor ao produto final, pode ajudar em muito em todo o processo de criação, desenvolvimento e LUCRO da empresa. Erra-se muito, achando que o design não deve ser inserido durante TODO o processo de criação, já que o designer tem uma visão de tudo que acontece, e conseguiria assim, além de criar um produto com as características realmente necessárias, quem sabe até, baixando o custo de criação do mesmo e trabalhando com as melhores formas de gestão e sustentabilidade.
Só que isso vem da história do design no Brasil, tudo começou com pessoas aprendendo a copiar produtos criados especialmente na Europa. Tentou-se criar uma identidade nacional do Design, vemos isso pela Lina Bo Bardi, que viajou pelo país recolhendo especialmente artesanato. Mas no meio desse processo algumas coisas foram perdidas. A criação das universidades de Design no Brasil tem modelos externos, fazendo assim com que se perca todas as características da realidade do nosso país sobre ele. Atualmente reencontramos a importância da realidade nacional dentro do design, não só para valorização do produto, mas também a valorização da população.
Isso influencia em muito como as empresas enxergam até hoje o design no Brasil. Essa visão errada e até mesmo mostrada por órgãos governamentais, como o site do Observatório Design Brasil (http://observatorio.designbrasil.org.br/), onde pra mostrar sobre design se mostra apenas para empresas que necessitam de algum designer pra alguma coisa, se compararmos o site inglês com o mesmo intuito, o Design Council (http://www.designcouncil.org.uk/) vemos que para a Inglaterra, é importante mostrar o design para toda a população e sua importância, não só para produtos, mas para o desenvolvimento do país.
Falta isso no Brasil, mostrar que o design tem grande importância para o desenvolvimento nacional. Como eu disse a alguns posts atrás, a FECOMERCIO está tentando, entre tantas reuniões, transformar a industria nacional em uma industria criativa.
Outra coisa que falta no Brasil é a pesquisa em Design, essa pesquisa nova, do novo valor agregado a essa profissão tão recente no nosso país. Só que, eu tentei hem, não se encontra muitas pesquisas saindo de Universidades sobre o papel do design na sociedade. Os estudantes precisam começar a pensar no mercado de trabalho, nos benefícios sociais que o design pode trazer e todo o desenvolvimento dele.
Ah, e a movimentação da classe né....algo que...a muitos anos se vêm discutindo, mas ninguém sabe o que é design....:

“É fundamental frisar que a falta de mobilização da categoria por uma mudança significativa comporta uma falta de visão clara, por seus membros, não só de sua posição específica no conjunto da categoria, mas principalmente de sua posição relativa no conjunto da sociedade”. - Lucy Niemeyer

Bom, é isso. Agora eu só pergunto
"E agora, José?"







Um comentário:

  1. Como bolsista de Iniciação Científica, posso dizer com conhecimento de causa que a área de pesquisa no país é escassa ao extremo. Quantas pessoas no meu curso fazem IC? 3? 4 no máximo! E infelizmente boa parte do desinteresse vem dos alunos. A maioria acaba indo pros estágios da vida (não que uma coisa exclua a outra). Resultado: dá pra se contar nos dedos os congressos científicos que podemos participar, quando avaliam nosso trabalho não existe avaliador apropriado (te jogam um professor x de ciências sociais ou pedagogia, que nem sabe oq é o design). Não sei porque esse desinteresse todo se dá pra ganhar bem com as bolsas como CNPQ, Fapesp, Proex e mesmo as bolsas de extensão que a própria Unesp disponibiliza. Os alunos precisam se informar mais, precisam se interessar mais, é o aluno que muda as realidades de um país.

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